A figura da vez em nosso álbum é Francisco Mallman. Uma figuraça, por sinal. Artista de presença marcante e trabalhos maduros como “haverá festa com o que restar” e o tão falado e recentemente publicado “América”, ambos pela editora Urutau.
Escritor, dramaturgo, pesquisador e, enfim, um multiartista, Francisco Mallmann é curitibano há 28 anos e topou uma conversa conosco, em plena tarde de domingo ensolarado.
Sua relação com poesia começa lá nos idos das aulas de português do colégio, com um livrinho de poesia marginal. Muito colado à essa relação com a poesia, a escrita surge meio que por acaso, despretensiosamente.
E as criações então são construídas por meio de uma consonante identificação com o ambiente poético. E por poético, Mallmann destaca a relação dele com as demais formas de produção artística, como a dramaturgia.
Essas formas se refletem em espaços variados, o que nos leva à relação de Mallmann com a Casa Selvática e a Membrana – grupa de escritoras e, dela, para o mundo particular da escrita do autor.
A Membrana
“Na Membrana, a gente se auto-nomeia como uma grupa, uma coletiva. Ela surgiu da iniciativa de três pessoas: eu, a Daniele Rosa e a Semy Monastier. A gente pensou em criar uma junta-gente de pessoas interessas em criar uma rede crítico-afetiva de pessoas que escrevem, mas um lugar, antes de tudo, atento à escuta e aos modos de a gente compartilhar nossos trabalhos”.
Francisco Mallmann ainda relata que “a Membrana foi se configurando enquanto esse polo super importante e atrelado à Selvática no início, os encontros aconteciam lá, eram quinzenais e tinham esse chamado, num primeiro momento, de convidar as pessoas para estarem juntas, discutindo, pensando e vivendo juntas, invertendo inclusive esse próprio entendimento do que é uma crítica, do que é um retorno endereçado, do que pode ser discutir o trabalho, do que pode ser um trabalho compartilhado, também alheio a essa lógica de avaliação ou do julgamento, numa tentativa de escapar dessa crítica-julgamento”.
A escrita pode ser uma formulação coletiva
Por Mallmann: “O modo como que a gente se afeta, o modo como isso vai para a escrita, o modo como que as coisas que a gente ama ou as escritoras e os escritos e as poetas que a gente admira, o modo como que elas se revelam também fazem parte dessa nossa convivência, as pessoas vêm junto com pessoas. Então essas são as pessoas que me fazem vibrar mais próximo do que é a criação em poesia ou do que é a criação escrita porque as pessoas que vieram antes vêm com elas de muitos jeitos”.
“Só consigo falar, de fato, das pessoas com quem eu convivo e que são muito próximas desses contextos que a gente já conversou antes. Acho que tem uma relação da escrita muito próxima a um entendimento de que a escrita pode ser uma formulação coletiva de fato, de como se colocar enquanto um enfrentamento a esse polo normativo”.
O que a Literatura significa na tua vida?
“Significa muitas coisas. Significa algo que eu adoro me debruçar por; algo que eu tenho achado interessante fazer ou criar ou pensar; mas de um modo mais conceitual ou talvez até menos conceitual de algum jeito, acho que significa manter ativo esse potencial de uma formulação a partir daqui, mas para além daqui. Acho que essa possibilidade de criar mundos para além deste que já não se aguenta, que já não se sustenta, que não suporta a gente, é a importância da literatura na minha vida. É entender que a gente pode transtemporalizar essa existência e colocar ela para além do que está posto.”
Saiba mais
A entrevista com Francisco Mallmann pode ser vista na íntegra em:
https://www.youtube.com/watch?v=usO_xQ1G1P4&list=PLyKCAaLSX1BQCuJ_NzYQ-pFNaamaQAhh9&index=2
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