A dois
Ela deixou o sapato, a calcinha, a risada, o choro, a conversa, a discórdia, não deixou a neurose.
O sapato ficou fora da caixa. A calcinha pendurada no Box. A risada deixou de ser presa e ficou livre. O choro saiu compulsivo. A discórdia era um caso mantido em segredo. Agora não mais.
Ele chegou sem calma, perguntou pelo jantar, sorriu no canto da boca.
Era noite. Era sono, idade, preguiça, paz, o sexo escorregando.
Começaram a guerra de travesseiros. Riram tanto, perceberam- se.
E a bagunça comeu até o amanhecer.
“Será que os vizinhos ouviram”’?
- Isso te incomoda?
- Não.
Os vizinhos provavelmente, não ouviram. Acordavam tão cedo na cantoria do galo. Era comum eles gritarem. Com a neta e o neto.
Lá pelas oito horas da manhã os vizinhos verbalizavam pra valer. Um xingando o outro, muitas atrocidades, nunca ternura. Nunca!
Deixando os vizinhos do lado de lado, voltando pra ela...
Vê que a primeira mensagem no celular foi às cinco horas e trinta minutos da manhã de um sábado qualquer. Meu café é tomado quentinho, com fumaças poéticas.
Ela e ele se alargam no desejo. Rolam sobre os gemidos. Hora de terminar o texto antes que o sonho esfrie.
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SOBRE A AUTORA
Sandra Modesto tem 60 anos. Nasceu e mora em Ituiutaba, MG. Graduada em Letras, pós-graduada em Educação, professora aposentada. Autora dos livros “Tudo em mim é prosa e rima” (Editora Autografia) e “Acenda a Luz” (Editora Kazuá). Textos incluídos em cinco antologias: Antologia Elas e as letras - Diversidade e resistência, editora Versejar, 2019; Antologia Ruínas- Editora Patuá, 2020; Antologia- Parem as máquinas- Selo Off Flip, 2020; Antologia- Prêmio Selo Off Flip, 2021; Antologia- Corvo Literário, 2021. Publicações em revistas digitais. Revista Philos: Digital e impressa.É membro do coletivo Mulherio das Letras, nacional. Cronista do site Crônica do Dia.
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