Por Bárbara Martins
“O tempo do amor esqueceu os ponteiros. O mundo apagou.”
(Bárbara Lia)
O livro Arrependimento de Bárbara Lia, publicado pela editora independente Feito no Ato, em 2019, é um romance/novela que narra uma história sensível e turbulenta de uma moça cuja vida se transforma ao fugir dos assédios de seu pai e chegar em Paranaguá/PR.
Em uma narrativa quase poética, a autora permite o trânsito pelos temas de amor, desilusão, crueldade, solidão e morte de forma intensa e delicada. Com maestria, capta a atenção do(a) leitor(a) desde as primeiras linhas até o último respiro da personagem. Talvez pela suavidade da sua escrita e pela intensidade de significados.
Bárbara se arrisca ao escrever uma história de temática comum. Não há nada de fabuloso em narrar a vida de uma guria que afoga seu passado amargo, troca seu nome sem escolher (Ana Beatriz passa a se chamar Aurora), se apaixona intensamente, perde seu amor e enfim, morre à espera de algo que nunca chega. No entanto, soube muito bem construir os entrelaços desse romance.
Por mais comum que o enredo possa parecer, nada é tão comum assim. A começar pela cidade de Paranaguá como o espaço da obra. É uma cidade histórica, portanto, cheia de histórias. Os lugares descritos nos fazem viajar no tempo e imaginar quantas Anas Beatrizes/Auroras passaram por lá.
Outro ponto interessante, é a descrição da paixão entre Aurora e Ébano, seu irmão adotivo, filho do casal que a acolheu quando chegara desolada na carroceria de um caminhão. As sensações e emoções vividas pelas personagens são narradas de acordo com a pureza de suas juventudes e de seu primeiro encontro corporal por completo. A intensidade das borboletas no estômago é descrita de forma amável.
“ O corpo dela ávido, banhado em uma angústia de saudade represada. O corpo dele que a invade, que a percorre com a saudade qual um menino que volta ao quintal da infância, à fonte dos segredos, ao lugar sagrado.”.
(Arrependimento, Bárbara Lia)
Mas como tudo na vida, os momentos nos fogem, e assim se foram os dias de amor entre Aurora e Ébano. Sobre a palavra arrependimento, que dá título ao livro, o(a) leitor(a), desvenda seu sentido na segunda parte, narrada por Chiara, uma das alunas de Aurora. Em seus pensamentos, Aurora era uma professora solitária, firme, por vezes lhe dava medo, mas aguçou seu amor pela música.
É interessante a forma como Bárbara Lia cria essa segunda parte do livro como um fechamento para a história. O cruzamento dos caminhos entre essas personagens, nos deslocam para uma percepção em primeira pessoa. Isso significa que temos apenas uma versão sobre como enxergavam a vida solitária de Aurora. Chiara, ao presenciar o momento do velório de sua professora, faz suposições sobre a relação entre Ébano e Aurora e o significado desse amor que não foi vivido a dois.
Um livro curto, de tamanho confortável às mãos, letras aconchegantes aos leitores e leitoras do consumo imediato, carrega uma história que vale a pena parar para mergulhar por um bom tempo.
Livro
Bárbara Lia. Arrependimento. São Paulo: Editora Independente Feito no Ato, 2019.
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