Horóscopo Chinês
Ano do Porco
daí ele é jogado pra fora da mesa
uma folha em branco de um livro
com defeito esquecido num armário
de obras sorvidas por traças de obras
completas queimadas no estômago da
besta da fera da onça da cabra que trou-
xa que otário oh deus como assim por que
ela vem então ela vem e te acolhe e
acredita em você você poderia dizer
como isso é brega histérico sem controle
mas ela existe eu vi em seus olhos
me disse não tenha medo lá fora não existe
agora lá fora é a sua folha em branco e
me abraçou logo eu ou melhor o meu
amigo distante encharcado de tinta
não olhe pra ele não o abrace
ele está imundo ele está sempre
lá
do meu lado
dormindo
ela me protege: um espelho sem reflexo
e eu entendo
o ronco do seu cão.
Ano do Rato
hoje um alívio copiou o fôlego da morte. não a grande explosão ou o estupro das águas (obrigando-nos a gozar) mas este apagar de luzes calmas como um travesseiro da infância. o fim de tudo ou o “ainda não” inerente à alvorada. todo o fechar de olhos fechando o olhar de cada um ao mesmo tempo
agora
para nos fazer ver.
Ano do Boi
voltando à realidade para se salvar
como quem chega ao fim da festa
e se candidata a limpar os cinzeiros
espalhados pela sala.
porque sim:
trata-se da sua própria casa.
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SOBRE O AUTOR
Alexandre Gil França nasceu em Curitiba em 1982. É Mestre em Artes Cênicas pela USP e doutorando em Teoria e História Literária pela Unicamp. Possui um romance publicado, Arquitetura do Mofo (2015, Encrenca - Arte e Letra), além de diversas peças encenadas pela sua companhia, a Dezoito Zero Um. Como músico, gravou os cd´s Música de Apartamento (Funarte, 2009), A solidão não mata, dá a ideia (2007), entre outros. Publica, junto com a poeta Iamni Reche Bezerra, a Mathilda Revista Literária.
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