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Foto do escritorRevista Trajanos

Quatro continhos ligeiros

Por Oly Cesar Wolf



SURPRESA


As luzes se apagaram, assim que a mulher vestida de branco acendeu uma vela no centro da mesa. Ao redor, um grupo aguardava em silêncio, enquanto ela dizia as palavras de evocação.

Não demorou muito para que o espírito se manifestasse, na forma de uma brisa que apagou a vela. Nessa hora todos se levantaram e começaram a cantar parabéns.



DESCULPAS


Constrangido pelo fracasso que se tornou, de modo infantil, ele se justificava mentindo que o cachorro comera o seu futuro.



EMARANHADO


A mãe, ao colocar o filho no berço, percebeu um fio solto na trama de lã do seu pequeno cobertor. Delicadamente, ela puxou o fio e ele foi crescendo em comprimento, na proporção inversa em que o cobertor encurtava.

O fio já ia longe quando o cobertor se acabou, mas como ainda havia muito fio, ela continuou puxando e, com isso, foi desfiando também o berço, o travesseiro e o bebê.

Puxando cada vez mais, pois o fio parecia não ter fim, a mãe foi se afastando e desfiando o quarto, a casa, o quintal, a cidade…

Quando já não havia mais para onde se afastar, ela tropeçou na borda do planeta. Sem largar a ponta, a mulher caiu no vazio do espaço e, enquanto caía, cada pequena parte do mundo foi se desfiando até que nada.

Só então ela soltou aquela ponta e, apanhando as agulhas, se pôs a tricotar.



OBEDIÊNCIA


A mãe grita da cozinha:

–Filho, não vá lá fora!

Ao que o menino responde:

– Vou aqui não, mãe.


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