ALÉM DO MAR
Na noite, um barulho.
Uma explosão, a família escorrega.
Então, correndo, todos vão para o mar.
Um esforço de esperança.
Nos braços da mãe, a menina está segura:
cabeça no peito, olhos fechados
que guardam a imagem da casa.
As mãos da mãe a protegem.
O mar balança-as, tingido de vermelho.
Vão embora, chorando em silêncio.
O mar, vermelho, está coberto de corpos.
Parando de chorar, a mãe sonha:
“O mar pertence a todos, vencedores e perdedores.
Nossa casa fica além do mar”.
Neve, palmeiras, o trenó, a gruta,
três reis nos camelos;
a estrela cometa no céu,
as luzes no abeto,
rastreadores de foguetes
sobre os campos
dos pobres refugiados.
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SONHOS DE INFÂNCIA
Sonhei com um mundo
sem a bomba atômica,
um mundo sem fome
e sem doenças incuráveis,
um mundo sem guerras
em que todos fossem irmãos.
Agora me encontro velho,
ocorrem guerras em todo o mundo,
não declaradas, mas cada vez mais mortais.
Uma epidemia voltou
como as pragas do passado
e os governos impõem um toque de recolher
mesmo onde não há guerra.
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ÁGUAS COLORIDAS
As águas do rio
mudaram sua cor.
Um filete brincalhão
se tornou amarelo,
depois rosa, vermelho,
outros optaram pelos verdes.
Um arco-íris colorido.
As águas borbulhantes pareciam
gozar de um carnaval de alegria.
Então, todos os córregos do rio
remexeram-se e assumiram
uma mesma cor azul,
como a tinta da caneta estilográfica.
O rio de águas coloridas
batia contra os pilares da ponte
e todos foram para vê-lo.
Os redemoinhos de água
eram como a escrita ágil
de uma mão experiente.
Os marcos tornaram-se palavras.
Os riachos delineavam mil, dez mil,
cem mil vezes, as mesmas palavras:
“Basta! Chega! Basta!”
Basta com a poluição? Com as guerras?
Cada um interpretou a expressão
como ele desejava.
Todo mundo tinha alguma razão
para dizer “basta” e, portanto,
quase todos concordaram com o rio.
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SOBRE O AUTOR
Alberto Arecchi (1947) é um arquiteto italiano, mora na cidade de Pavia. Tem longa experiência em projetos de cooperação para o desenvolvimento em África, como especialista em tecnologias apropriadas. Presidente da Associação Cultural Liutprand, edita estudos sobre a história local e as tradições, sem descurar as relações inter-culturais (site: https://www.liutprand.it). Escreve contos e poemas em italiano, português, espanhol e francês.
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