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  • Foto do escritorRevista Trajanos

Três poemas de Alberto Arecchi


ALÉM DO MAR


Na noite, um barulho.

Uma explosão, a família escorrega.

Então, correndo, todos vão para o mar.

Um esforço de esperança.

Nos braços da mãe, a menina está segura:

cabeça no peito, olhos fechados

que guardam a imagem da casa.

As mãos da mãe a protegem.

O mar balança-as, tingido de vermelho.

Vão embora, chorando em silêncio.

O mar, vermelho, está coberto de corpos.

Parando de chorar, a mãe sonha:

“O mar pertence a todos, vencedores e perdedores.

Nossa casa fica além do mar”.

Neve, palmeiras, o trenó, a gruta,

três reis nos camelos;

a estrela cometa no céu,

as luzes no abeto,

rastreadores de foguetes

sobre os campos

dos pobres refugiados.



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SONHOS DE INFÂNCIA


Sonhei com um mundo

sem a bomba atômica,

um mundo sem fome

e sem doenças incuráveis,

um mundo sem guerras

em que todos fossem irmãos.


Agora me encontro velho,

ocorrem guerras em todo o mundo,

não declaradas, mas cada vez mais mortais.

Uma epidemia voltou

como as pragas do passado

e os governos impõem um toque de recolher

mesmo onde não há guerra.


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ÁGUAS COLORIDAS


As águas do rio

mudaram sua cor.

Um filete brincalhão

se tornou amarelo,

depois rosa, vermelho,

outros optaram pelos verdes.

Um arco-íris colorido.

As águas borbulhantes pareciam

gozar de um carnaval de alegria.

Então, todos os córregos do rio

remexeram-se e assumiram

uma mesma cor azul,

como a tinta da caneta estilográfica.

O rio de águas coloridas

batia contra os pilares da ponte

e todos foram para vê-lo.

Os redemoinhos de água

eram como a escrita ágil

de uma mão experiente.

Os marcos tornaram-se palavras.

Os riachos delineavam mil, dez mil,

cem mil vezes, as mesmas palavras:

“Basta! Chega! Basta!”

Basta com a poluição? Com as guerras?

Cada um interpretou a expressão

como ele desejava.

Todo mundo tinha alguma razão

para dizer “basta” e, portanto,

quase todos concordaram com o rio.


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SOBRE O AUTOR


Alberto Arecchi (1947) é um arquiteto italiano, mora na cidade de Pavia. Tem longa experiência em projetos de cooperação para o desenvolvimento em África, como especialista em tecnologias apropriadas. Presidente da Associação Cultural Liutprand, edita estudos sobre a história local e as tradições, sem descurar as relações inter-culturais (site: https://www.liutprand.it). Escreve contos e poemas em italiano, português, espanhol e francês.



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