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Foto do escritorRevista Trajanos

Três poemas de Etel Frota



...blues de Natal



Sê bem-vindo, menininho,

que teimas em tornar a nascer

no meio de águas podres,

balas perdidas,

chãos de queimada.

Que insistes em forçar janelas de porões escuros

dos subsolos da crueldade e da indiferença.

Sê bem-vindo.

E bem-vindo seja todo o bem que contigo vem:

Da virgem adolescente, a confiança e a acolhida.

Os calos e a fé de José.

O hálito morno da noite no estábulo.

Dos reis e pastores, a disposição para andar,

e essa absurda crença em tão improvável estrela.

Sê bem-vindo, menininho.

Acende um nascimento no meu peito,

e nos deixa um pouquinho da tua nudez...




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*Sem título*



Porque lavo muito as mãos

meu verso se faz banal

Poema ralo

Mingau


No tour da noite

faço cara de estrangeiro

e o denso caldo de odorestrelamentos

me chega coado

tingido

pelo pano da camisa

Voal


Deliro

Urgência de marginal

Ânsia tesa de demente

Ânsia frouxa de doente

terminal


Vertigem?

Só sei da que vejo

no jornal

nacional


Espio de longe o barranco

na horizontal

Acrófoba

teorizo a queda

Teorema

abissal


Respiro compassado

Medito zen

oriental

Hidrófila

Brotos diversos. Arroz integral


Em noites claras

hidrófoba

amarro-me ao gradil

e vendo de negro os olhos

pra não ter de uivar pra Lua




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Feliz Natal, fotógrafo



Foto: Rubens Guelman



“Ao teu olhar, fotógrafo, ofereço meu meio sorriso, a ponta visível de uma dignidade que -imortal e mítica- se recusa a sucumbir embaixo do monturo de fragmentos de restos orgânicos, crueldades e papel laminado.

Com teu apetite divido minha marmita. Chester e farofa amanhecidos. Saboroso prato que se come frio. Que a tua câmera e o olhar que porventura nos contemple sejam capazes de intuir a imagem que falta a esta nossa série fotográfica: a ceia de ontem, risos desabridos, comida quente.

Neste nosso presépio das ruas, Feliz Natal, fotógrafo!”


Tasteful dish served cold.


'Revenge is a dish best served cold'?



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SOBRE A AUTORA


ETEL FROTA, nasceu em Cornélio Procópio, norte do Paraná, em 1952. Foi professora, bancária, médica; desde 1998 apresenta-se como escritora. Letrista, tem relevantes nomes da música brasileira e escandinava como parceiros de composição e/ou intérpretes de suas canções: Carla Visi, Ceumar, Iso Fischer, Måns Mernsten, Maria Bethânia, Nasi, Zé Rodrix, entre dezenas de outros. Arriscou-se na dramaturgia (‘Vila Paraíso’, 2004, ‘Ato, fato, relato’, 2019). Escreveu roteiros para espetáculos musicais. Publicou ‘Artigo oitavo – poesia escrita, falada e cantada’ (2002, poesia, independente); ‘Lyricas, a construção da canção’ (2007, songbook, independente); ‘O Herói Provisório’ (2017, romance, Travessa dos Editores); ‘Flor de Dor – o Tao do Trio canta Etel Frota‘ (2016, música, Gramofone); ‘Mahadevi, A Árvore da Vida’ (2018, Kotter, em parceria com a fotógrafa Dani Leela), ‘Viúva na janela’ (2021, romance). No prelo, ‘Identidades e Diversidades’ (um mergulho literário na fotografia documental de Rubens Guelman), . Ao longo da carreira, foi indicada e/ou premiada no 2º Festival de Compositores – MPB – Sesc da Esquina; Prêmio Saul Trumpete; Prêmio Gralha Azul; Samba do Compositor Paranaense; Prêmio Grão de Música; Prêmio José de Alencar - União Brasileira de Escritores, Escola de Música da UFMG - Coral Ars Nova; Prêmio Profissionais da Música. Colaboradora eventual da Folha de S.Paulo. Em parceria com o jornalista Alan Romero, escreve, produz e apresenta o programa semanal ‘Poemoda, a canção em verso e prosa’, transmitido pela Rádio Voz Online de Lisboa,. Membro da Academia Paranaense de Letras.






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