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Foto do escritorRevista Trajanos

TRÊS POEMAS DE VITOR EDUARDO SIMON




PARA ALÉM


Para além da fronteira

nada há

que me lance à frente.

Para além da porta

há um porto

seco de mar,

de onde não parte barco

e nem atraca corda.

Para além do quarto

há um corte curto

no pulso.

Para além da cama

não há corpo que ame,

há só o verso

onde durmo.





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ÚLTIMO ANO


Quem se cansava da linha

ia pro gol

e acertar a canela,

quando houvesse consenso,

era falta.

Assim entardecia

no Vermelhão da Serra,

batizado pelo Zigo,

professor de Química e enganche:

nunca demos tempo

para a grama vingar.

Desfalcou-me o trinta e oito,

furando calça e carne.

Depois foi a boca da Tita,

língua enroscada na minha

por quilômetros a fio.

Salvou-se a rótula,

mas não o coração.

Então fiz dezoito

e pendurei as chuteiras.




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VINTE E SETE DE JULHO


Van Gogh alvejado, tinta fresca escorrendo.

Meu pai num leito tocado a morfina.

Cento e doze anos e um Atlântico de distância.

Barbas ruivas sem pintar.

Um caminha até a vila, o outro já nem levanta.

Olhos fixos no terror, mão sem força na minha.

Pinceladas certeiras por dentro.

As três orelhas moribundas já não ouvem.

Vinte e sete de julho, um dia amarelo demais.

Quadro para a posteridade.




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SOBRE O AUTOR


Vitor Eduardo Simon tem 48 anos e vive em São Leopoldo-RS. É formado em Publicidade e Propaganda pela UFSM (1995) e em Filosofia pela UFPel (2021). Estudou poesia na oficina de Orlando Fonseca e conto na de Luiz Antonio de Assis Brasil. Ficou em terceiro lugar no Prêmio Cidadão de Poesia, em 2019, na cidade de Limeira-SP, e ganhou Menção Honrosa no 31º Concurso de Contos de Araçatuba-SP, em 2018. Já publicou dois livros de contos: “Bravos contos breves” (2014 – autopublicação) e “Moedas soltas no bolso” (2018 – Editora Benfazeja). Fez a sua estreia como poeta com “Cata-vento imóvel” (2020 – autopublicação).


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