“a escrita continua e continua também buscando outros caminhos, outras formas de acontecer.”
Foi uma conversa, mesmo que marcada de última hora, já esperada, porque ele fez parte da formação do Entreprosas (grupo que daria argamassa para a construção desta revista). Convidamos Cristiano de Sales para o Café com Poesia, entrevista feita no último mês de junho.
Ele respira literatura: é crítico colaborador do Jornal Rascunho e professor do campus Curitiba da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). De quê? Literatura. Toda sua formação gira em torno de estudar esse universo, mas alguma coisa acontece.
A partir de 2016 surgem os rascunhos do que se tornaria De Silêncios e Demoras, seu primeiro livro, publicado em 2020 pela Arte e Letra. Acontece que esse trabalho com a literatura acaba se misturando com a vontade de fazer literatura, um fazer cheio de convívios e reflexos. Mais que reflexos, fotografias.
De Silêncios e Demoras, nas palavras do próprio autor, “É um livro que faz misturar literatura e fotografia”. E, seja pela quietude da foto, seja pelo se arrastar do fazer literário, esse livro se desemboca em um novo rumo.
Em 2020, em um resultado da chamada da editora Urutau para autores do Paraná, ficamos sabendo: Cristiano está com um livro novo. Também conversamos com ele sobre esse novo livro, Urgências que Não São, e a fala do autor é simples e direta: “a escrita continua e continua também buscando outros caminhos, outras formas de acontecer”. “Por incrível que pareça”, relata, “nesse ano que foi tão duro [2020] e que se desdobra em 2021, com sua dureza, foi um ano que escrevi muito”.
E nessa busca por outras formas de acontecer, como que surge esse livro?
A escrita
Cristiano: “Eu geralmente estabeleço mais ou menos um traço em comum, tem algo que vai aparecer em todos os poemas. Então é normal que enquanto eu escreva já tenha algo ali no horizonte – às vezes é um som, às vezes é uma imagem, às vezes é uma palavra, às vezes é um tema –, que sempre vai ficar como pano de fundo para tudo aquilo que eu for escrever durante um período. É como se fosse uma pesquisa mesmo. Se no primeiro livro o silêncio e a demora eram os temas principais, naturalmente que qualquer cena sobre a qual eu quisesse escrever, ia sair com alguma pretensão de tocar nesses temas: o silêncio e a demora. Nesse segundo momento, o tempo, por meio de suas urgências, é o tema que atravessa tudo. Então o nome do livro é Urgências que Não São e tudo o que eu vim escrevendo durante o ano de 2020, um ano pandêmico, tinha no seu horizonte pensar o que é urgente e o que não é”.
E o que a literatura significa pra você?
Cristiano: “É uma forma de expandir minha compreensão do mundo. Eu recorro muito ao ato da leitura para me expandir mesmo, para compreender coisas sobre o outro, sobre mim mesmo, sobre o que eu não sei, justamente porque a literatura opera no regime do dissenso e não do consenso, então a potência da literatura e a importância do que ela significa pra mim vem daí, de não estabelecer um consenso e sim de apresentar o inusitado, que ainda não foi experimentado, o imponderado, eu acho que é por isso que ela é tão importante”.
Saiba mais
A entrevista com Cristiano de Sales pode ser vista na íntegra em:
https://www.youtube.com/watch?v=2ewGzwhGwII
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