Gente querida, a 3x4 não é só aquela “fotinha” amassada e mal enquadrada, do fundo esquecido de sua carteira. Essa fotografia é um lado importante de sua identidade, um lado sem aqueles penduricalhos de enumerações, códigos, letras e outras coisas. Restam suas rugas e suas marcas.
Assim é a 3x4, rugas, marcas ou, se preferir, um recorte mensal importante das conversas trocadas no Café com Poesia, organizado por Clara Bordinião, cedidas em parceria com a Revista Trajanos. E a conversa da vez é com a escritora Luci Collin, sobre o que está rolando neste cenário literário pandêmico e maluco.
À Luci e seus trabalhos, se fôssemos nos dedicar apenas a elogios, faltariam dedos para os escrever. Nascida aqui mesmo, na terra do pinhão gordo e das araucárias tortas, Luci Collin é escritora, tradutora, cadeira 32 da Academia Paranaense de Letras (APL) e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Reconhecidos local e nacionalmente, cada livro seu coleciona leitores e admiradores. Sua obra A palavra algo (2016), 2º lugar do Prêmio Jabuti, faz parte da atual lista de obras para o vestibular da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Só no ano passado, seu livro mais recente Rosa que está (2020), foi semifinalista do Prêmio Oceanos e finalista do Prêmio Jabuti.
Com sua extensa trajetória, Luci Collin é uma verdadeira mestra, inspirando – e ensinando – toda uma geração atual de poetas. Nesta conversa, Luci falou um pouco sobre o cenário atual da literatura paranaense, a escrita pandêmica e outras coisas mais.
Os cenários literários paranaense e curitibano vão muito bem, obrigado
Perguntada sobre o cenário literário local, Luci foi direto ao ponto. Deixou claro que nada surge do além e ressaltou toda a importância das gerações literárias locais das quais herdamos manejos e colhemos bons frutos, citando autores como Helena Kolody, Valêncio Xavier, Jamil Snege e Manoel Carlos Karam, mas também destacando a relevância de nossos novos olhares para as coisas e para as expressões do corpo em relação ao poético, com as novas formas de se compartilhar o fazer poético.
“Isso é um processo, lugar nenhum vai começar fazendo uma poesia extraordinária sem esse trato, esse investimento digamos, sem essas cabeças todas e corações, naturalmente, que foram cultivando essa prática”, afirma.
Sobre a escrita pandêmica
E em meio a esse processo, surge uma pandemia que, neste mês, completa seu primeiro ano sem perspectivas de melhora, com um governo declaradamente negacionista e ausente. Os artistas, então, também caem em um momento de profunda crise não somente financeira, mas pessoal.
Quem escreve, é claro que sofre com o isolamento e com a pressão do momento em que vivemos. Luci comentou um pouco sobre essa situação que nos obrigou a mudar, ou, em suas palavras, transformar duramente, nossas concepções filosóficas, emocionais, psicológicas e materiais. Comenta também sobre os caminhos que nós, escritores, poetas e artistas, enquanto leitores do mundo, fomos desbravando.
“É uma demanda muito grave essa sob a qual estamos, nós temos que dar conta de todos esses fatos incrementados ainda por uma realidade política e econômica. À própria dramaticidade de uma pandemia nós ainda agregamos todos esses fatores. Chega uma hora que nos vemos naturalmente estraçalhados, não há como reagir de uma maneira a qual nós não temos estofo para essas coisas que são novíssimas em nossa existência, não temos estofo emocional porque é muito difícil o que estamos assistindo, as pessoas morrendo diariamente, centenas de pessoas morrendo em nosso país, em nossa cidade, no mundo inteiro. Então essa experiência é dolorosa por si e nós, enquanto artistas, temos na nossa função uma necessidade intrínseca de observação do momento para podermos refletir, transmitir e transformar isso através da palavra e por fim cumprirmos com a nossa função mesmo de poetas, de escritores, de pensadores, através da produção estética de tudo isso que nós estamos vendo”.
Somos necessários
Assim, com essa sociedade em puro desequilíbrio, a poeta afirma que aos artistas cabe o cuidado de combater as manifestações de que a sociedade não precisa de arte. Sim, leitores, vocês sabem que, durante esse longo ano de retrocessos, a arte é o que tem, muitas vezes, amparado o psicológico das pessoas.
Luci comenta que, apesar de muitos terem tentado caracterizar os artistas ridiculamente como criaturas de outra dimensão, ininteligíveis e herméticos, são esses artistas uma parte muito natural do que o ser humano sempre foi desde os tempos mais ancestrais. A função do artista? Resistir, ela afirma. Resistir e criar um espaço de releitura do mundo e das coisas que nos cercam.
Escrevamos todos
Relata ainda que todas as manifestações emocionais, por meio das linguagens artísticas, são necessárias para reestabelecer essa sensibilidade na sociedade, porque os artistas tratam daquilo que é imaterial às pessoas, sem se enquadrar a produtos como livros e mídias, mas tratando de descobertas e de compartilhamentos de emoções.
“Deve-se escrever porque se acredita que se pode estar através da palavra e contribuir para a emoção das pessoas”. E por que emocionar, Luci? “Para que as pessoas mudem”.
Na íntegra
Ok, o que você leu foi apenas um pequeno recorte de toda a conversa.
Saiba mais assistindo o bate-papo na íntegra em nosso canal, em:
https://www.youtube.com/watch?v=ajJUziAYsiQ&t=2342s
Até a próxima.
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