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Café com poesia, com Francisco Mallmann

Atualizado: 3 de mai. de 2021

Por Clara Bordinião


Durante a pandemia, o Café com Poesia nasceu como uma live no Instagram, no formato de uma conversa despretensiosa acompanhada de uma boa bebida, com conversas sobre literatura, educação, arte, a vida pandêmica e a poesia dos dias de confinamento. Hoje eu, Clara Bordinião, através dessa coluna na Revista Trajanos trago as minhas leituras, as poetas e os poetas que durante esse ano pandêmico me deram um respiro no meio dos seus versos, para fugir da loucura dos nossos dias.

Hoje apresento a vocês um poeta curitibano, que também é um performer, um ator, um dramaturgo e um múltiplo escritor que me ajudou a respirar melhor durante esse primeiro ano pandêmico, seu nome, Francisco Mallmann! Venho acompanhando seu trabalho pelo Instagram, onde a fotografia ganha voz poética potente e a curiosidade de saber esse autor em livro ficou inquietante. No início desse ano adquiri dois livros de poesia de Malmann, Haverá festa com o que restar (2018) e América (2020) ambos publicados pela editora paulista Urutau. Comecei a ler os livros em ordem cronológica, e por essa e outras razões que o leitor irá conhecer, decidi que trazer a leitura de Francisco Mallmann com Haverá festa com o que restar seria a melhor escolha para o meu primeiro texto na Trajanos.

Vamos começar pelas partes técnicas do livro, mas sem tantas delongas. Dividido em oito partes, que podem ser entendidas como oito capítulos ou como oito atos de uma peça, Mallmann cativa o seu leitor primeiro pela história do amor, primeiro capítulo/ato, e caminha com ele até depois do fim, último capítulo/ato. Com alguns atos longos, digo capítulos, e outros um pouco mais curtos, o poeta nos conduz a olhar as pequenas delicadezas do cotidiano, que o olhar ligeiro do ser humano metropolitano não consegue ver. O ordinário e o extraordinário se misturam numa dança poética, numa condução rítmica que nos lembra a tradição poética descrita por Ezra Pound.

Confesso que a poesia de Mallmann me trouxe à lembrança outros poetas e escritores curitibanos como Paulo Venturelli, Luci Collin, Alice Ruiz, Paulo Leminski e Dalton Trevisan. Nessa lembrança encontro espaços da nossa cidade, ainda que Francisco não faça essa referência de forma direta. Mesmo assim o poeta nos faz andar pela cidade e nos reconhecer nas personas de cada poema. Não darei nenhum spoiler aqui, mas Haverá festa com o que restar cumpre o papel de seu título, principalmente nesse momento em que a morte, o ódio, a falta de empatia nos cercam e nos encarceram dentro de casa. A poesia de Mallmann nos traz a certeza de estarmos vivos, mesmo que tudo nos pareça morte. A poesia nos torna humanos de várias maneiras, sendo o real respiro que nos salva do afogamento.

Outro ponto importante da poesia de Francisco Mallmann são as marcações, memórias e referências a vida de pessoas LGBTQIA+. Em poemas como o sem título que começa com “a bicha morre” o poeta subverte a forma tradicional do poema, misturando características da prosa com o ritmo da poesia, da mesma forma que traz a figura central do poema, a bicha, personagem e indivíduo da sociedade muitas vezes silenciado.

É dessas vozes que Francisco Mallmann constrói sua poética, do silenciamento da mulher, da bicha, da sapatão, da América Latina. Mallmann é um verdadeiro estouro poético em Curitiba, no Paraná e no Brasil, é uma voz dessa geração de poetas nascidos no final dos 1980 e início da década 1990, da qual eu também faço parte, e pretendo trazer aqui para a nossa coluna, Café com Poesia.


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