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Agustina Bessa-Luís em A Sibila [(Re)visitando]

Atualizado: 3 de mai. de 2021

Por Bruno Everton



A obra majestosa de Agustina Bessa-Luís serve como um marco na literatura portuguesa demonstrando o peso da mulher (como autora e personagem) em sua representatividade literária, e como que essa figura consegue agir dentro de uma narrativa desprovida de um vínculo obrigatório com uma figura masculina que a consolide.

O livro traz consigo um tempo não-linear, completamente volátil, fazendo com que o espaço-tempo torne-se um nó entre o presente, o presente do passado, e o passado do passado, tornando sua leitura um tanto difícil pela polifonia temporal presente, requerendo da entidade leitora, um grau acentuado de atenção para conseguir captar o exato momento de fala, diferenciando-o do momento de tópico, pois, muitas vezes, o assunto é tratado tanto no presente quanto no passado da obra de forma concomitante.

Além disso, a autora acaba por inverter a relação centro-margem que vigorava até meados do século XX, retirando do centro a figura masculina (transferindo-a para a margem), e em seu lugar, inserindo a figura da mulher, dotando-a de voz, força e representatividade ao longo da narrativa, apagando a força opressora masculina, que atirava as personagens femininas para papéis de pouco peso e influência. Aqui, as mulheres que são as responsáveis pelo núcleo, por reerguer uma economia falida, enquanto os homens escancaram seus demônios, como figuras despidas de moral e pudor, entregues ao “levianismo”.

Com isso, Bessa-Luís acaba por criar personagens densas (como Maria, Estina e Quina) que compõem uma tríade forte, que refletem o progresso transitório do mundo rural para o mundo moderno, e tal é apresentado pela forma como comportam e interagem com o meio que estão situadas. Maria é uma mulher com raízes rurais, dada ao casamento, ao núcleo familiar, que acaba por aceitar a vida libertina do marido. Estina, com seu desprestígio, cede a um casamento sem amor, em que esperava encontrar conforto, e deparou-se com violência e abusividade. Já Quina, não vê a necessidade em filiar-se a homem algum, era uma mulher que mais estimava o respeito a amores que só tendiam a sabotá-la.

Dentro desse jogo de transição, tem-se Germa, sobrinha de Quina, que em determinados momentos, empresta seus olhos ao narrador onisciente, enxergando de mais perto os acontecimentos da Casa de Vessadas, expondo as entranhas de uma sociedade que caminhava à ruína em decorrência da decadência do meio rural para o meio urbano.

Por fim, nota-se a riqueza da obra de Bessa-Luís, não só devido a sua complexidade, mas também na possibilidade de analisá-la a partir de diferentes óticas (psicanalítica, histórica, e feminista, por exemplo), assim como rompe com a estrutura clássica de narrar a ficção de forma puramente linear, revestindo-a de um material único e raro dentro do que a caverna literária pode nos ofertar.

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