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Foto do escritorRevista Trajanos

Com a palavra, Clara Bordinião


Perfil


Clara Bordinião é natural de Curitiba, formada em Letras Português pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Clara é poeta e pesquisadora na área de literatura. Sagitariana, como é, se aventura nas diversas manifestações artísticas buscando a poeticidade do cotidiano. Flertando sempre com a música e o teatro, parte de sua pesquisa poética hoje se debruça nas performances do Burlesco e nas performances Drag Queen e Drag King. Em sua pesquisa acadêmica seu foco é a manifestação poética tanto na poesia como na prosa.

Em seu primeiro livro, lançado recentemente pela editora Kotter, Clara Bordinião faz das suas experiências cotidianas e artísticas a base para os seus poemas, Canto para Mnemosyne (2021) é uma composição poética e performática em louvor as memórias e as musas. É resenhista mensal da Revista Trajanos.


Na sequência, alguns poemas inéditos de “Amorosidades e pequenas tragédias”, seu livro mais recente ainda não publicado.





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Me provoca com leituras

que talvez eu nem alcance,

mas ainda assim – sim

me provoca, como quem gosta.

deixa as tuas migalhas para eu te seguir.


Deixo teu chá

na mesa de canto da cama,

tardezinha fria e de chuva amena.

te vejo com as tuas leituras, tão

concentrada

e os pequenos sorrisos que surgem dos

teus pequenos lábios.

o movimento das tuas mãos na orelha

da tua caneca quentinha.


repouso minha cabeça no

teu colo enquanto ouvimos Gal.


Tuas mãos nos meus cabelos

criando ninhos,

desenhando poemas

que eu não posso ler.



---



Corpo-sol


Eu quero

atravessar a rua

e te ver.

Quero o gostinho,

o arrepio,

a tremedeira

de te beijar.


Inteira.

Inteirinha.

Inteira.


Quero sentir a safadeza.

Provocar a onça com vara curta.


Ser abelha e beija-flor

dos nossos corpos-flores.


Levantar da cama

só se precisar

buscar nossa comida,

nosso vinho,

nosso chá,

nosso livro,

e teus pequenos beijos de volta.


Ver teu corpo iluminar o quarto

e esquentar meus sentidos todos.


Ouvir você sussurrar

teus poemas em inglês

e eu perdida sem saber o que tu disse,

mas sentindo o ritmo e a sonoridade

da tua voz no poema.

Quero declamar poemas enquanto

te beijo

misturar as salivas poéticas

inventar um poema

de dois lábios que se querem.


Quero ser e estar

Sentir e gozar

teu corpo-poema

teu corpo-sol.




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Promessa


Até que tua língua

esteja na minha boca,

ela continuará a ressoar

em meus ouvidos.




















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