Fotos e texto por Gustavo Nishida
Achei fotos de outros tempos. De uma máquina que meu pai já não usava mais. Daquelas de filme. Fotos do fim de 2019. Pouco antes do início do fim do mundo. Pessoas sem máscaras nas ruas. Apressadas. E eu brincando de parar o tempo. Andava com a câmera por aí e fotografava. Depois, me permitia tentar revelar os filmes em casa. Só levava pro laboratório pra digitalizar. Afinal, meu scanerzinho está embolorado. Por mais clichê que me pareça, essas ruas já não existem mais. Até o pixo está mais apagado. Passei na frente ontem durante o passeio do cachorro. De lá pra cá, ando sem coragem de lançar os olhos sobre a câmera; de tocar nos próprios olhos. Apenas lanço o olhar sobre o mundo, sem cliques. Vida chata. Vida boa era a vida besta de outrora; de se permitir.
Foto 1.
Há dias notei que esse espelho se quebrou. Será este o seu último registro?
Foto 2.
A pressa planta o olhar das pessoas no chão enquanto as plantas brincam de escalar uma parece.
Foto 3.
Nunca é demais lembrar que “amor é liberdade”.
Foto 4.
Essa é uma das fotos de que mais gosto. Daquelas que a gente para no meio de uma canaleta pra pegar o infinito do asfalto. Mas o espectro de luz só existe em máquinas e filmes assombrados, de outros tempos.
Foto 5.
Andei pelas ruas esses dias. Não há mais manequins na frente das lojas. Que foi feito deles?
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Gustavo Nishida é bacharel, mestre e doutor em Letras pela Universidade Federal do Paraná. Atua como professor dos cursos de Letras Português e Comunicação Organizacional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Paulista de nascimento e paranaense por tempo de moradia, divide as atividades docentes com a música, a fotografia e a escrita. Em 2020, publicou seu primeiro livro: A voz do ornitorrinco.
Retrato feito por Gabriel Stocchero (@clickcertoestudio)
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