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Foto do escritorRevista Trajanos

Com a palavra, Oly Cesar Wolf


Perfil


Oly Cesar Wolf (Campo Largo/PR) é músico e escritor. Começou a publicar seus textos em 2007, em um blog humorístico chamado O Grande Niestéviski, onde pretendia desenvolver um trabalho feito nos moldes de grandes personagens universais de cultura popular, como Pedro Malasartes, Nasrudin, Jeca Tatu, Bocage e outros tantos. Começou a participar de concursos literários em 2017, tendo conquistado alguns prêmios, entre os quais se destacam o 27ª Prêmio Cataratas de Contos e Poesias (primeiro lugar/poesia), 18º prêmio Paulo Setubal primeiro lugar/crônica, 10º Prêmio Escriba de contos 2019, segundo lugar. Em 2020, pela Secretaria de Estado da Comunicação Social e da Cultura do Paraná, foi aprovado para a publicação de dois livros, nos seguintes editais: Edital 005/2020 – Outras Palavras – Prêmio de Obras Literárias Contos e crônicas: O Grande Niestéviski e Cultura nas Redes – Licenciamento de Obras Literárias Digitais: escândalos e sutilezas, poesia. Também teve um conto selecionado no concurso Contos da Quarentena, promovido pelo site Brasil 247 e lançado pela Kotter Editorial.





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ROTINA


O galo canta, orgânico despertador,

Anunciando a morna manhã solar

Que explode azul entre nuvens no céu.


O corpo, cansado do descanso,

Desperta em trancos de lentidão

E imprecisos espasmos de ímpeto,

Entre lamentos, maldições e semi-choro.


A cidade canta em coro

A percussiva civilização

De motores, máquinas,

Pressa, preço e precisão.


O corpo se levanta por precisão.

É preciso construir o amanhã

Como um pedreiro constrói

A casa nova em que não mora.


É necessário crer no copo quente de café

E no pão seco que o devora.

De manhã, ninguém salta da cama

Se não for por um ato de fé.




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RESISTÊNCIA


O que pode o punho, contra a pedra?

Pode a imprudência do ato

Pode a queda

Pode quedar-se pó

Pode fender a carne na resistência do golpe

Pode colorir-se no violeta do sangue

Até extinguir-se em massa e dor e nada.


O que pode o punho, contra a pedra?

Pode louca luta

Labuta conta moinhos de vento

Pode resistência e fracasso

Que enaltece e dói

Pode tudo

Pode herói.




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LÍNGUA AFIADA


Na voz, o que trago

É fino fio de fala.

Barbante que rebenta

Se digo faca ou navalha.


Se digo faca ou navalha,

A voz é vento que corta.

É sussurro que goteja,

Empoça, evapora e se espalha.


Se digo faca ou navalha,

A voz é um alfaiate

Que sem o domínio da arte

Só descostura e retalha.



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COMIDA CASEIRA


Minha mãe moia sonhos

No moinho dos dentes,

Enquanto no quintal chovia sol

E só.


Na percussão de panelas e colheres,

Ferviam entranhas, no fogo úmido

Das suas mãos inquietas.


Depois de pronto,

Todos comíamos

Do almoço amargo.

Um caldo grosso

De destempero e desgosto

Que nos obstruía gargantas e olhos.


Vez por outra minha mãe chorava.

“Cebola”, ela dizia.






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