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Cosmogonias, de Otto L. Winck


Frente ao poeta, eu existo. Frente ao poeta, sou.


Por Renata C. L. Miccelli


“Há um interstício entre o que eu sou e o que sonho, o que penso e o que sinto.

No meio, bem no meio, eu estou: pleno e vazio.

Não importa [...]

Eu existo.



Tive o privilégio de conviver com o Otto Leopoldo Winck durante minha graduação em Letras. Mais que isso, tive o privilégio de tê-lo como orientador. Hoje, fico animada – e, confesso, um pouco receosa – em falar de Cosmogonias, publicado, em 2018, pela editora Kotter.

Não só porque Cosmogonias é uma obra rica em profundidade e conhecimento do eu e do mundo, mas também porque é nostálgico ler e lembrar das aulas e eventos em que tinha a oportunidade de ouvir versos e mais versos recitados pelo autor.

Ficava encantada com o tamanho conhecimento de Otto.

E maravilhada com o seu lado poeta.

Cosmogonias reúne versos, palavras, sinas, “poemas que registram sua visitação de abismos, seu testemunho de vertigens, seu tédio diante dos tremores do Absoluto, sua exposição aos perigos do amor tardio [...]”.

Não há definição melhor e maior como a de Jaques Brand.

Realmente, entre a percepção de se encontrar só e a de se ver como nada, a ele coube “admirar o que não tem explicação, o que não faz sentido”, admirar ou indignar.

Admirar, este é um verbo que se destaca a cada poema. Como leitor, você se admira com os versos, questionando-se se seria ousadia ou necessidade comparar Otto aos grandes poetas brasileiros. Comparar não, incluí-lo na estante da grande literatura.

“De erro em erro, Otto Leopoldo Winck aprofunda-se em sua sina de poeta” (Jaques Brand), abrindo a janela da vida e sentindo o impacto das palavras esquecidas e deixadas para trás, “no bolso ou num velho banco de um jardim de inverno”.

Sentindo-se só e recolhendo em si as peças de encaixe, nas vivências e no entender de que se nada somos, então quem somos?

Afinal, “não sou nada”.

Então, “tudo é nada”?

Não importa, “brilharemos – alto, bem alto – como o sol de janeiro.”

“Recolho todas as estrelas
e elas palpitam como peixes vivos
nas minhas mãos
maravilhadas.
E descobri que ser poeta
é saber lê-las
para você”.

Ao defender meu trabalho de conclusão, tive a honra de ouvir que minha escrita era um manifesto. Hoje, tenho a alegria de retribuir o elogio, mesmo que nada reste do poeta, “de seus projetos e manifestos – a não ser uma nódoa de vida em alguns versos”.

Cosmogonias reúne sabedorias. Sabedorias do humano, dos deuses, dos que escrevem versos de vida. Dos amores, do “azul deste céu de setembro”, do “esplendor do vento”, do eu lírico.

Cosmogonias é o resgate da aura, perdida outrora em uma esquina.

É o resgate das estrelas e o descobrir que “ser poeta é saber lê-las”.


Livro


Cosmogonias, Otto Leopoldo Winck. 1. ed. Kotter Editorial, 2018. 120 p.

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