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Lascas Lascadas, de Lídia Domingues


Por Bárbara Martins


E nessa incerteza do sentimento, brigo até com o ponto e vírgula.

(Lídia Domingues – Lascas Lascadas)



Entre filosofia e literatura, conto e crônica, poemas e narrativas, o livro de contos de Lídia Domingues, Lascas lascadas, algumas mais que outras, publicado em 2019, pela Kotter Editorial, nos leva a um passeio pelas angústias, reflexões e pequenas felicidades da vida.

Nessa linguagem que entremeia os gêneros literários, Lídia escreve, em grande parte, em tom intimista os pensamentos de personagens que ora são femininas, ora se confundem entre masculino e feminino. A narrativa em primeira pessoa aproxima a leitora e o leitor das angústias vividas na academia, em um meio onde a heteronormatividade “dá” aos homens a detenção do conhecimento filosófico e literário dos cânones.

Não apenas no meio acadêmico, mas também em oficinas de escrita criativa e conversas de bar, as suas personagens têm de lidar com esse padrão e estereótipos de uma realidade machista, racista, LGBTQI+ fóbica... A exemplo, no conto “Afeto”, a personagem, extremamente revoltada por ser subestimada em sua capacidade de compreensão, procura palavras, pontuação e acentuação para descrever o que sente e nada parece ser suficiente. À medida que a personagem descreve sua corrente desenfreada de pensamentos, sentimos com ela a raiva, a calmaria, depois a melancolia e sua solidão.


“E nessa incerteza do sentimento, brigo até com o ponto e vírgula. queria gritar amo-te, mas odeio-te!”.

O ato de escrever não passa batido nas reflexões críticas das personagens, principalmente daquelas que parecem estar iniciando sua caminhada. Em “Ritual”, nos deparamos com o dia de “alforria” da personagem de suas atividades habituais. A personagem passa por um processo ansioso, cujo medo de mostrar o que escreveu se aflora enquanto rasga os papéis com suas escritas, dois a dois, para então se fechar em seu medo de se expor dessa maneira.

O narrador parece conhecer o turbilhão de emoções que se passam com a personagem. Ao sentar-se para escrever, ela não se preocupa com “primeira ou terceira pessoa, ponto de vista, micro e macro visão, distorção e distanciamento do real, verossimilhança, regras ortográficas, análise sintática, verbos, adjetivos e o caralho a quatro”. Ela apenas “ouve as músicas de Janis Joplin ao fundo e escreve como se naquele gesto houvesse uma salvação”.

Nesses contos de Lídia, compartilhamos das frustrações, das angústias, das ansiedades, das lembranças de pequenas felicidades das personagens. Tudo isso são lascas, que assim como Otto Winck escreve na quarta capa, compõem “um grande mosaico”.



Livro



Lascas Lascadas, algumas mais que outras, Lídia Domingues. Kotter Editorial, 2019. 132 p.


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