Por Bruno Everton
O escritor peruano, Mario Vargas Llosa, confere não só à literatura de seu país, como no geral, um presente primoroso ao apresentar-nos o romance Cinco Esquinas em que nesse não só acompanhamos os contratempos do romance extraconjugal entre Marisa e Chabela, como também acompanhamos, por meio do semanário chamado Revelações e a infeliz relação desse com Quique – marido de Marisa –, o cenário de corrupção do regime opressor do atual presidente Fujimori operar com os seus mecanismos de controle e opressão pelo país. No meio disso tudo, destaca-se a poética descomprometida de Llosa, sem buscar grandes invenções, mas objetivando, somente, a contar a história dos casais e seus empecilhos diante de um cenário político conturbado e, apesar de ser ambientado em 1990 e na arquitetura peruana, pouco se diferencia da situação que vivemos atualmente em 2021, no Brasil.
Resumidamente, Quique recebe a visita insistente de um jornalista do semanário, ao enfim recebê-lo, é surpreendido não só com chantagens como também com fotos assustadoras dele dentro de uma boate cercado de prostitutas que poderiam comprometer sua posição de prestígio. O tal jornalista era ninguém mais, ninguém menos que Rolando Garro, um ousado e impulsivo jornalista que prezava por um bom furo de reportagem. Sua revista, localizada em Cinco Esquinas, metaforicamente, servia de encontro não só da sua trama pessoal, de publicar escândalos a fim de garantir notoriedade para o seu semanário, como também o do relacionamento de Marisa e Chabela, o segredo da noite não contada de Enrique Cárdenas – Quique –, o regime opressor e corrupto de Fujimori e a saga solitária de Juan Peineta contra Garro. Tudo culminava no mesmo ponto, afinal, as fotos do escândalo protagonizadas por Quique detidas por Garro serviam de elemento primordial para fazer com que a narrativa se desenvolva.
Com isso, acompanhamos a ascensão e a queda de Garro em sua busca irrefreável pelo furo que faria seu semanário decolar, os relatos analíticos de Peineta sobre os passos de Garro e sua ousadia cega e obstinada em busca de seu objetivo. Assim como, deslocamos de Lima para Miami, indo e voltando ao lado de Marisa e Chabela, que vivem um romance particular, regado a medos, segredos e descobertas, enquanto saímos de uma mansão luxuosa com Quique direto para uma prisão onde o engenheiro sofre, vivencia e experimenta os limites da desumanidade. Diante disso tudo, Llosa nos mostra que não precisa de muito floreio ou exageros na hora de apresentar uma narrativa para o seu leitor, basta, somente, um elemento-chave e um ritmo narrativo equilibrado entre momentos calmaria e de agitação.
Livro
Cinco Esquinas, Mario Vargas Llosa. Alfaguara. 2016. 239 p.
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