top of page
Foto do escritorRevista Trajanos

Meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos

Por Bruno Everton



A experiência de leitura proporcionada pela obra: Meu pé de laranja lima, com autoria de José Mauro de Vasconcelos, é simplesmente única. Não bastasse a obra nos apresentar um protagonista de tamanha profundidade, ela também apresenta como que o meio capitalista, com a sua opressão realista sufocante e violenta, é capaz de assassinar a mentalidade pueril e imaginativa de uma criança, por meio de surras, corretivos e supressões de sua expressão criativa. Isso faz com que o indivíduo, Zezé (o protagonista), procure se refugiar do mundo real opressor, ao lado de seu fiel pé de Laranja Lima, vulgo, Minguinho (ou Xururuca, quando queria expressar ao máximo o seu carinho pelo seu fiel amigo).

Contudo, antes de debruçarmos sobre o personagem Zezé, cabe uma a advertência que posso deixar acerca da obra: é que essa trata, sobretudo, de violência que é apresentada em diferentes formas: física, psicológica, verbal e não-verbal. E todas essas formas são direcionadas a Zezé de maneira tão banalizada e crua (somente sendo sensível à personagem Glória rebelar-se contra ela), que mesmo que no início possamos compreendê-las como necessárias (pois o garoto, por ser criança, é um praticante assíduo de traquinagens). No fim, acabamos por criticar não só a essa prática violenta, como também a nós mesmos, por termos visto ela como justa, mesmo que inicialmente.



Não bastasse a obra nos apresentar um protagonista de tamanha profundidade, ela também apresenta como que o meio capitalista, com a sua opressão realista sufocante e violenta, é capaz de assassinar a mentalidade pueril e imaginativa de uma criança, por meio de surras, corretivos e supressões de sua expressão criativa.


Agora tratemos da personagem principal, Zezé. Podemos resumi-lo a um personagem marginal-picaresco. Seu lado picaresco é perceptível a partir do seu relacionamento problemático com o meio, pois simplesmente não conseguia levar a vida sem aplicar uma traquinagem em alguém, sem esse recurso, a vida era desprovida de qualquer emoção (fora esse recurso, a mentira era outro que dispunha e que o utilizava aliado de sua mente criativa). E o seu lado marginal se dá pela sua posição social: uma criança de família pobre, com um linguajar de contraste (por deter termos rebuscados para o seu meio, contraposto por palavras de baixo calão), desprovido de bens materiais, e de uma esperteza e “ligeireza” nada nobres. Contudo e sobretudo, é um personagem carismático (acredito que por conta de todas essas características), e que em sua expressão de pequeno-grande-gênio, consegue convencer o leitor das injustiças que sofre devido ao seu comportamento. E que tamanha fora a violência que sofreu e sofre no decorrer do livro, que passa a aceitar banalmente a alcunha de “o diabo da família” e “o culpado por todas coisas ruins”.

Por fim, a obra acaba por demonstrar como que a violência é capaz de fazer com que crianças percam o melhor de sua expressão (seja corporal, verbal ou imaginária), que, inclusive, as individualizam no meio dos adultos, que foram castrados pela realidade opressora do meio, e que essa não sabe lidar com uma visão fantástica do mundo.


Livro

Meu pé de laranja lima. José Mauro de Vasconcelos.

Melhoramentos, 1968. 192 p.

18 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Post: Blog2_Post
bottom of page