o oco
a palavra
quando quase
faz perceber
o espaço
do que ainda pode estar
e é pouco
e é antes
na delicadeza de não se impor
fermenta a paisagem
que não suporta
o som do que é quieto
como as mãos de
um surdo fluente
poeta no gesto
palavra quando quadro
pintura e risco
antes que o som
aquele triz
raio trovão
seu espanto
nesse já aí
ainda
non sense
e já então
vazia
prestes a nunca mais
ser só o instante
ela, a palavra,
geografiza seu próprio fim
e quando muita
não deixa ouvir
o oco
da vida
cortando
de viés
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SOBRE O AUTOR
Cristiano de Sales
Nasceu em Florianópolis. É professor de Literatura na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Reside em Curitiba. Escreve sobre poesia para o jornal Rascunho. Publicou de De silêncios e demoras (Cajarana/Arte e Letra, 2020) e em breve lança Urgências que não são (Urutau, 2021), ambos de poesia.
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