Por Oly Cesar Wolf
Muitos já tentaram verter o famoso poema O Corvo para o português, inclusive grandes nomes da literatura como Machado de Assis e Fernando Pessoa. Há traduções ruins, outras boas, porém, nenhuma tentativa resultou em perfeição. Por isso resolvi fazer uma tradução definitiva desse poema. Para captar todo o sentido, e também para que dialogue melhor com o público moderno, fiz pequenas modificações sutis, tão sutis que nem são percebidas em uma primeira leitura. Ainda não está terminado, mas compartilho aqui o meu trabalho feito até agora:
O Corvo
(Edegar Allan Poe)
Tradutor: Niestéviski
Certa noite, na minha quebrada,
Numa hora desgraçada,
Cansado depois de encher uma laje sob o sol,
Enquanto eu lia num velho almanaque Sadol
Alguma coisa, que não importa,
Eis que ouvi, vindo da porta
Do meu barraco um barulhinho
Eu disse, depois de me assustar demais:
Deve ser o moleque filho do vizinho,
Só pode ser essa peste de piá do satanais.
É, eu me lembro! Eu me lembro!
Era no forno do verão de dezembro
Soprava pela casa o barulhento ventilador,
A sua última dor.
Eu, louco por uma cerveja, buscava no que lia
O horóscopo e técnicas de pescaria,
Então lembrei da falecida Ludicréia
Que partiu, feito um foguete, pro beleléu,
Depois de agoniante diarreia,
Para brincar com os anjinhos do céu.
Cai o papelão da janela
E invade pelo buraco dela
Um papagaio bem verdinho
Soltando penas pelo caminho
Voando pela minha maloca,
Aquele primo do Zé Carioca.
Voando todo desajeitado
Passando sobre a cristaleira
E depois de haver a garrafa térmica derrubado,
Pousou sobre a minha penteadeira.
Olhando para aquele passarinho,
Ali empoleirado, sozinho,
Enquanto coçava as suas penas
Dei uma risadinha apenas.
Ai eu disse: “Ô ave das selvas tropicais,
Você tá meio que abusada demais.
Antes que eu te pegue pra vender na feira,
Me diz aí o nomezinho teu.”
E, me olhando, sorrindo faceira,
A ave apenas disse: Fudeu!
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