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  • Foto do escritorRevista Trajanos

UM CONTO E UM POEMA DE LÍVIA LOPES




gosto da palavra transeunte


tem quase eu

tem quase transa

tem quase tu



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Tudo que existe no mundo


Em nada me elucidam analogias de natureza. Nomes de pássaros, pastagens, orvalhos recorrentes dizem-me, senão, sobre a ausência de meus viveres naquilo. Máquinas se desinstalam automaticamente e nisso se revela também toda a inoperância diante de uma tentativa de programação do que se desenrola diante de nós. A sutileza tornou-se tão repetido objeto de nosso almejar, por nossas mãos grosseiras, mas queridas, que hoje escapa a uma definição. Nós a engolimos por sede. O que é justo. Crianças não sentem saudade. São de presentes, na febre de quem é destituído de futuro, senão aquele do próximo segundo. Podemos nos lapidar, acredito, ao ponto de qualquer coisa merecer. Menos um amor. Revoltosos, decidimos fazê-lo. Sinaleiros ainda condicionam minhas sensações no atravessar da rua. A transgressão é vermelha, não importam as descrenças. Já acariciamos um copo de vidro na falta de uma pele de pele. Gostaria que meu perdão custasse mais. Gostaria de ler sem me cutucar. Caráteres adaptáveis inspiram admiração, mas realmente, sabe-se que a elegância vem de imutabilidades. Tento não mais referir-me à boemia, pois ela se perdeu em mim quando a compreendi. Quero que se faça novamente num bolo de sensação sem linguagem. Meu ventre nunca me doeu, o que me faz pensar numa presença falsa. Aprendi que inclinações evitam colarinhos. Minhas costelas são tortas, mas só por fora. Penso nos avessos. Minha boca é bonita, mas é resultado de aparelhagem. Concluo que o momento que a chuva decida fazer-se ver siga o mesmo princípio da lágrima. Acredito que águas tenham princípio. Confio na semântica de versos apenas depois de serem belos. Poesia funciona em determinados dias.



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SOBRE A AUTORA



Livia Lopes Marangoni


Após ter passado dois anos cursando Engenharia, a curitibana, nascida em 1997, decide mudar para a graduação de Letras-Português, em 2019, na UTFPR. Desde então, apaixona-se cada vez mais pelo exercício literário, precisamente o mundo da crítica. Possui publicações pequenas narrativas em jornais como O Cândido, da Biblioteca Pública do Paraná, bem como participação na antologia poética Sarau Brasil 2019, publicada pela Editora Vivara. A prosa poética é marca principal de sua escrita, mas o texto e a prática acadêmica são, também, um de seus grandes interesses. Seu primeiro artigo acadêmico, sobre João Cabral de Melo Neto, foi publicado na Revista Sete Faces, em 2020.


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